Quando pensamos e criamos algo para ser lembrado, devemos registrá-lo, quer seja em uma foto, quer seja em um escrito, pois assim você perpetuará a sua ideia e torna-se-á um Imortal!

Foi o que fiz aqui... Tornei-me imortal!

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

O sábio silêncio do amor.


Um dia um mestre perguntou aos seus discípulos:
- Por que as pessoas gritam quando estão aborrecidas?
Os homens pensaram por alguns momentos.
- Porque perdemos a calma – disse um deles. – Por isso gritamos.
- Mas, por que gritar quando a outra pessoa está ao teu lado? Não é possível falar-lhe em voz baixa? Por que gritas a uma pessoa quando estás aborrecido?
Os homens deram algumas respostas, mas nenhuma delas satisfez o mestre. 
Finalmente ele explicou:
- Quando duas pessoas estão aborrecidas, seus corações se afastam muito. Para cobrir esta distância precisam gritar para poder escutar-se. 
Quanto mais aborrecidas estejam, mais forte terão que gritar para se escutar um ao outro através desta grande distância.
Em seguida perguntou:
- O que sucede quando duas pessoas se enamoram? Elas não gritam, mas se falam suavemente. Por quê? Porque seus corações estão muito perto. 
A distância entre elas é pequena. Quando se enamoram, acontece mais alguma coisa? Notem que quase não falam, somente sussurram, e ficam cada vez mais perto do seu amor. 
Finalmente, não necessitam sequer sussurrar, somente se olham e isto é tudo. Assim é quando duas pessoas que se amam estão próximas.
Portanto, quando discutirem, não deixem que seus corações se afastem, não digam palavras que os distanciem mais. Chegará um dia em que a distância será tanta que não mais encontrarão o caminho de volta.

Eis aqui meu Pequeno Príncipe

Meu amigo Naninho


Nunca pude ter um gato. 
Por consequência disso, nunca pensei em ter um. 
Minha mãe, com uma cega ignorância, achava que gatos "traziam" doenças e são animais de mau agouro. 
Cresci...evoluí e continuando minha evolução, passei pelo seguinte episódio e aprendizado:
Meu amiguinho Zezinho, apareceu em nossa rua vindo não se sabe de onde e conquistou a vizinhança com seu jeito simpático e engraçado de se "aprochegar" das pessoas.

Brincava com ele de longe, pois as broncas frases de minha mãe retumbava na minha lembrança.
Ele sempre se aproximava, roçava a cabeça nas minhas pernas até que eu, fazendo-me de entendida nos cumprimentos, dava-lhe alguns grãos de ração.
Curiosamente, ele só comia depois que eu passava a mão em sua cabecinha, como se, com esse gesto, eu desse permissão para ele comer.

Aos pouquinhos, pouquinho mesmo, esse pequenino ser com seus gestos amorosos, foi tendo resultado em nossa conquista.

Toda manhã, lá estava ele, cansado e faminto, vinha fazer seu ritual matinal para ganhar seus grãos.
Chamavam-no de Zezinho, e ele, sagazmente, atendia de pronto, o negócio era ganhar a simpatia de todos!
Passaram-se alguns meses, meu pequeno conquistador acabou sendo conhecido pela rua toda, por sua simpatia com todos, inclusive pelos cachorros da redondeza.
Um dia reparamos que haviam nascido em algumas partes de seu corpo, mais precisamente em seu dorso e laterais das coxas, algumas feridas.
"A briga foi feia!" Lembro-me de ter comentado com ele, mas mesmo assim, com aquelas feridas, ele continuava com sua simpatia e fome.

Notei que as feridas aumentavam e surgiram em outros lugares. A "suposta" dona dele, ou seja, a pessoa que deixava que ele dormisse e "às vezes" comesse em sua casa, não deu importância ao fato, e como estava com uma nova cadelinha, não permitiu mais que Zezinho entrasse em sua casa para se abrigar.

Na rua, e se escondendo entre telhados, ele ia sofrendo com suas feridas e com seu abandono.
Sua aparência já não era mais tão agradável e algumas pessoas com suas ignorâncias aguçadas, pensaram em "dar fim logo aquele bicho".

De gato simpático, ele já era tratado como uma aberração, pois, quem quer ficar perto de doentes?
Senti que precisava fazer alguma coisa, eu não podia deixar que meu simpático amigo sofresse tal coisa.
A gota d'água para a decisão de cuidar dele, foi quando descobrimos que alguém quis envenená-lo.
Ele apareceu com uma espécie de baba branca e vomitando. 
Naninho em seu cantinho
Resolvi então que deveria fazer algo. Com a cumplicidade de meu marido, decidimos leva-lo imediatamente ao veterinário.

Na mesma ocasião e com o mesmo pensamento de ajudar, um outro coração também estava disposto a isso, e nos juntamos com o comprometimento de salvar a vida do pequeno amiguinho.

Diagnosticado com esporotricose, um nome novo para mim, comecei os cuidados com o meu mais novo paciente que passei a chamar carinhosamente de "Naninho".

Com seu olhar doce, conversei com ele como se realmente fosse um paciente. Pedi-lhe que me perdoasse se por acaso eu falhasse em alguma coisa, mas eu estava certa de sua cura!
Cura esta que segundo a veterinária demoraria entre 6 meses a um ano.
Com minha expectativa de cura para meu paciente, disse que em 3 meses ele estaria no mínimo sem aquelas feridas.

Me empolguei e trouxe Naninho para casa. 
Prendi-o em uma guia , doada pela vizinha, ajeitei seu cantinho com água, comida e amor, porém esqueci de um detalhe: Gatos fazem suas necessidades na areia, e agora? Aqui não tem areia. Pensei em uma solução rapidamente quando vi em monte de areia lavada da obra do vizinho.
Arranjei uma caixa de papelão, forrei e lá fui eu tomar emprestado um punhado de areia lavada.
No momento que coloquei a areia, já foi ele inaugurar seu banheirinho improvisado. 
Eu não contive a emoção de ver como são limpos os felinos, pelo menos esse ali era, fez seu cocozinho, que por sinal fede demais! cheirou e enterrou até que não houvesse mais vestígios de sua obra.

Contei o feito a minha vizinha colaboradora, e ela depois de rir muito de mim, deu para nosso amiguinho uma caixa de areia própria para os gatos fazerem suas necessidades, me instruiu a comprar argila sanitária que é muito mais higiênico e sem cheiro.

Cheiro de gato foi algo que me incomodou muito no começo, porque ele demarcou com urina todo o canto que ele passava, ele estava estressado por estar preso, essa situação era nova, ele era livre, era o dono da rua e agora estava sendo limitada sua área.

Comecei o tratamento com 100 mg de Itraconazol todo dia, as feridas não me agradavam, ficava com medo de pousar moscas e a situação piorar. 
Tivemos a ideia de colocar sulfa (anaseptyl) e o resultado foi positivo, elas começaram a secar. 
Minha preocupação era ele lamber o remédio. 
Comprei então um tal colar Elisabetano (acho que é isso) que para mim é um colar torturador!
Não quis essa tortura em meu amiguinho, então deixei o tal colar de lado e inventei um de sacos, amarrei como laçarote, um saco de lixo grande, um para cima e outro para baixo. 
Deu certo! quando ele se virava para se lamber, os plásticos faziam barulho e ele parava a intenção das lambidas.
As vezes, e não foram poucas, chorei com pena de meu amigo, seus olhos eram tristonhos, e isso me deixava muito triste também!
Naninho triste sem liberdade
Sei que ele gostaria de estar por cima dos muros, entre os telhados, correndo atrás de suas alegrias de gato.

Chorei e pedi a meu Deus que sarasse logo as feridas de meu amiguinho e o livrasse dessa doença cativeira que deixa marcas no couro, e na alma!

Eis que de manhã ao acordar, me deparo com uma nova criatura em meu portão.
Bem, pra quem nunca teve gatos, não entende nada de gatos e nunca parou para pensar sobre gatos, eu já me superei. 
Deixei que uma nova companheira chegasse no pedaço!
Uma amiga linda, com a pelagem de três cores: branca, amarela e preta. Uma mistura que só mesmo a Dona Natureza sabe fazer!
Coloquei logo o nome de Estrelinha, porque a felina se destacava e brilhava. Notei que ela se aproximava toda vez que ele miava alto com todo seu estresse. Ela chegava perto e ficava olhando pra ele e miando baixinho, como se dissesse palavras de conforto.

Deixei que ela ficasse por aqui também, ofereci a ela um lar, se ela quisesse ficar, e o que parece, ela aceitou. Foi ficando e ficando e tornou-se uma cuidadora de Naninho também.
Ela enterrava as fezes e urina dele, pois ele mesmo já não fazia mais. Não sentia o odor como antes, uma ferida tomou conta de suas narinas e afetou o seu faro. 
Ela fazia então a limpeza da caixinha, tomando conta toda vez que ele saia da caixa para enterrar seus excrementos.
Ela não encostava nele, apenas ficava perto quando ele miava alto, ele logo parava, e ela ficava olhando fixamente pra ele.
Só se afastava quando ele ia para seu cantinho dormir; ela então relaxava e dormia também.
Um dia descobri uma bolinha em minha mão. 
Logo percebi que havia me contaminado com a doença. Fato que eu já esperava, pois mesmo com luvas e todo cuidado, é praticamente impossível não tocar e manusear um animal de porte médio e consequentemente não ser contaminada.
Iniciei o tratamento com o mesmo remédio que eu tratava Zezinho: O Itraconazol.
Porém o inconveniente é que eu sou cardiopata, e essa medicação para mim estava causando reações adversas.

Aconselhada pela cardiologista, tive que procurar um outro lar para meu querido amigo. 
Indicada pela FIOCRUZ, levamos Zezinho para uma Instituição que cuida de animais, arranjei uma caixa de transporte e coloquei meu amigo confortavelmente ali. 

Naninho no transporte indo para a Instituição
Ele me olhava com olhar interrogativo e miava como se pedisse explicações. 
Eu chorosa no canto do carro, evitava aquele olhar. Chegando ao endereço do local, não me despedi direito, como gostaria, tinha a esperança de um dia tornar a vê-lo, por isso disse apenas tchau!

Meu marido pegou firmemente a caixa e com passos decididos adentrou o portão e já não o vi mais.
Vinte e dois minutos depois ele retorna com muitas lágrimas nos olhos, retira o óculos, e eu entendo muito bem suas lágrimas e silêncio. Não perguntei nada naquele momento, esperei que fizesse sua despedida em silêncio.

Deixamos naquele lugar um amigo e um enorme pedaço de nossos corações!
Chorei muito, como quem perde um filho para uma doença incurável.
Sofremos muito, mas sei que ele está sendo bem tratado, com profissionais voluntários que estão mais preparados para esse cuidar.

Quando chegamos em casa, Estrelinha sentou-se à frente da caixa de transporte e olhava fixamente, para a porta, como se esperasse que dali saísse seu amiguinho que ela viu entrando. 
Miou murcho, miou seco, e desistiu. 
Chamei-a e com um abracinho, disse que estava 
tudo bem agora.
Estrelinha
Ela agora nos consola, nos alegra e enfeita nosso coração, Nossa casa, nossa garagem, e como alegria sempre vem acompanhada de outra, ela trouxe mais um amigo, o Sam.

Sam, o mais novo amigo

Sam também tem história pra ser contada, mas essa eu conto depois.
Obrigada meu amigo Naninho, você me fez conhecer e entender a mágica terapia que é ter um gato.

Claraluz